Pequenas, porém gigantes: as vesículas extracelulares e sua imensidão de possibilidades
As vesículas extracelulares (EVs) são nanopartículas esféricas produzidas por microrganismos dos três domínios da vida, e em vários microrganismos já foi comprovado suas funções espetaculares. Embora inicialmente descritas como descarte de material em excesso ou “lixo celular”, o conhecimento atual sobre as funções e aplicações dessas vesículas mostra o quão são surpreendentes essas pequenas partículas. Muitos trabalhos já mostraram o papel de vesículas extracelulares no contexto genético (na transferência horizontal de genes); fisiológico (comunicação intercelular) e ecológico (predação em bactérias de solo) em sistemas microbianos. Vesículas extracelulares são destaques na interação patógeno-hospedeiro, sendo verdadeiros pacotes completos de entrega de fatores cruciais no estabelecimento da doença no hospedeiro, como enzimas, toxinas, ácidos nucleicos diversos e até metabólitos secundários.
No contexto de bactérias patogênicas ainda podem agir como disseminadores de genes que codificam resistência a antimicrobianos, um problema de grande preocupação no atual cenário mundial. Além disso, EVs apresentam diversas aplicações como em terapias anticâncer e vacinas. Vale ressaltar que a vacina usada para controle de meningite sorogrupo B é um exemplo de sucesso da aplicação de EVs como vacina, na qual é usada a própria vesícula extracelular, conhecida como OMV (Outer Membrane Vesicle), contendo diferentes proteínas antigênicas, produzida por Neisseria meningitidis sorogrupo B como imunizante. Podemos dizer que as EVs permitem às células alcançarem o inalcançável, devido ao seu tamanho e capacidade de chegar e interagir onde a célula não é capaz.
Nós do laboratório de Genética Molecular de Bactérias (LGMB), sob orientação da professora Denise Bazzolli, em parceria com o professor Paul Langford (Imperial College London – UK) e a professora Anastasia Callaghan (University of Portsmouth – UK), desenvolvemos pesquisas voltadas ao entendimento da participação dessas vesículas na interação patógeno-hospedeiro, sendo o foco de estudo a espécie Actinobacillus pleuropneumoniae (App), um patógeno bacteriano responsável por causar pleuropneumonia suína, doença que afeta globalmente a suinocultura e causa grandes prejuízos econômicos. Nosso objetivo principal é entender o papel de um velho conhecido, o RNA, em EVs e o envolvimento deste ácido nucleico na interação com o hospedeiro, com foco em pequenos RNAs reguladores. Investimos esforços no entendimento da participação de vesículas na resposta do hospedeiro quando infectado por App. É uma pesquisa desafiadora, na qual nos possibilita desvendar uma caixa preta ainda não explorada para o patógeno em questão. É interessante, surpreendente e INOVADOR!
Esperamos que tenham se interessado pelo assunto
Autor: Giarlã Cunha da Silva, doutorando da Pós-graduação em Microbiologia Agrícola, integrante do NEMA.